domingo, 9 de março de 2008

O Iluminismo

“O que é o tempo?
Quem o sabe explicar?
Quem sabe articular sequer um pensamento acerca dele?
E no entanto, o que há de mais familiar e sempre presente que o tempo?
Então o que é afinal?
Se ninguém me perguntar, eu sei.
Se tivesse de o explicar, não saberia.
Tudo o que digo é que não haveria passado, se nada passasse. E não haveria futuro, se nada viesse ao nosso encontro. E não haveria presente, se não houvesse algo que existe.
Como é então que existem estes dois conceitos de tempo?
Um passado, outro futuro, se o passado já não é, e o futuro ainda não é?
Mas se o presente fosse para sempre presente e não passasse, não seria presente, mas eternidade.
Por outro lado, nunca houve um tempo em que não houvesse tempo.
Mas se o presente só existe para se tornar passado, como podemos sequer dizer que ele existe, se a sua existência se perde logo?
Ou devemos afirmar que o tempo só existe porque tende a não existir?
O que é claro é que, nem o passado nem o futuro existem.
O passado não existe porque já foi. E o futuro não existe porque ainda não chegou. Tenho então de dizer que só há um tempo…o tempo presente?
Ou podemos em vez disso assumir que somos três tempos distintos?
Nomeadamente…o presente do passado…o presente do presente…e o presente do futuro?
O único tempo que eu posso realmente viver é o tempo presente. Mas, não obstante, na nossa alma, sentimos três tempos diferentes.
Há o presente do passado, que é a memória, o presente do presente, que é a contemplação, e o presente do futuro, que é a expectativa.
No decorrer da vida, todas as acções que eu projecto para o futuro, uma vez concluídas, passam a fazer parte do passado. Com o passar do tempo, quanto mais vivemos mais as nossas experiências se tornam recordações.
Todas as coisas esperadas são reduzidas ao entrar no presente e isto acontece no espaço de um só dia, como acontece no período das nossas vidas.
Confesso, meu Senhor, que ainda não sei o que é o tempo. Tu, meu Deus, vais iluminar-me. Serás a minha lanterna. Irei de encontro à Tua luz. Tu, meu Deus, iluminarás a minha escuridão. Cada vez mais luminosa, mais luminosa.

Baseado em Sto Agostinho 354-430 DC”

Texto tirado da curta-metragem “O Iluminismo” realizada por Volker Schlöndorff.
O filme acaba com um homem a ser electrocutado; uma pequena ironia…brincadeira séria do Cinema.

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