domingo, 2 de março de 2008

O equilibrista

Eu, nós, eles. Nem sempre por esta ordem ou nas mesmas proporções. Ultimamente muito pouco "eu", residualmente "eu", muito "nós" e inevitavelmente "eles".

"Eles" por que tem que ser. Não tem que ser, mas o "eu" quer que assim seja. O "eu" precisa "d'eles"para as suas realidades.
"Eles" são o acessório, o contornável, o equívoco, o desprezível, o figurativo.
Muitas vezes são "eles" que ocupam a maior parte dos meus dias, criam obstáculos que, em dias difíceis, parecem incontornáveis, subjugam a vontade e chegam a corromper a alma por uma mão cheia de nada ou meia dúzia de ilusões.
"Eles" são o figurante com aspiração a personagem principal. Dâmaso Salcede sem escrúpulos, flatulento e barrigudo, perfumado com as cópias dos outros.
Sou "eu" quem cria as necessidades mas são eles que as alimenta. Paguem-me bem para os suportar!

"Nós", porque somos a base estrutural do meu quotidiano, porto de abrigo nas horas más e razão da nossa existência social. Sempre muito, por vezes excessivo, pois esqueço o "eu", mas o muito é bem empregue, edifica e solidifica as relações inequívocas.
O sorriso sincero, o abraço profundo, a alegria da pertença e da partilha. A segurança, o conforto, a cumplicidade, a inexistência de contrapartidas ao dar. O estar e partilhar por necessidades intrínsecas não visíveis ou mensuráveis.
"Eu" sei quem somos e "nós" sabemos que o somos.

"Eu", porque nada existe sem mim. Visão narcisista da vida mas no entanto real, factual e incontornável.
A realidade é o "eu" que a proporciona e constrói. Os "eus" somos a realidade. Hoje esta, amanhã outra, mas sempre a minha, consciente ou inconsciente do que sou ou do que abdico para ser.
Conjunto de átomos agrupados com um desígnio, e talvez um sentido, ansiosos por recriarem, mas também eles, e por agora, em equilíbrio.

O segredo está em descobrir as porções certas para a poção mágica funcionar, sabendo de antemão que os ingredientes têm de estar todos no caldeirão.
Mas será mesmo assim? Será que falta um outro qualquer componente etéreo e por ora inalcançável?
As folhas de visco estão a minha mão, mas a foice de druida não terá que ser de ouro?
Tudo seria mais fácil se um "eu" acreditasse.

2 comentários:

Anónimo disse...

"Vejo-te, gosto da ideia, atiro-me ao caldeirão."


Beijos.

Vagabundo dos Limbos disse...

Seja Bem Vinda!